Ressonâncias da Interpretação

Grupo de estudo | Andrea Tavares
Andrea Tavares
Andrea Tavares - Graduação na Faculdade  de Psicologia Maria Thereza, 1989. Formação na Escola Lacaniana de Psicanálise-RJ, até 2019. Coordenadora do Colóquio de Psicanálise e Fórum de Psicanálise. Participante da pesquisa na Maternidade Neonatal do Hospital Universitário Hospital Antônio Pedro. Coordenação do grupo de trabalho e pesquisa em Psicanálise e Educação. Palestrante em instituições de ensino fundamental. Colaboradora do Entrelinhas da Psicanálise. Coordenadora da Jornada de Psicanálise. Coordenação do Espaço Clínico em supervisão e do grupo de leitura comentada: Da sexualidade à Sexuação. Em Gradiva: Grupo de Estudos – quintas-feiras, das 14h às 15h30 Conversação Clínica – segundas-feiras, das 18h30 às 20h

Neste semestre vamos dar continuidade à proposta inicial de percorrermos as trilhas abertas por Freud e Lacan sobre a interpretação. A interpretação não foi inserida nos quatro conceitos fundamentais, pois está intimamente articulada ao conceito de inconsciente. Nos artigos sobre a técnica, Freud revela que há algo no sujeito que ele não pode saber sobre si mesmo. Esse insabido funciona como motor de uma análise e é correlato ao desejo do analista, cuja posição ética orienta-se ao particular de cada um.

Neste sentido, o sujeito em análise é o escritor de seu próprio texto, para além de sua história, pois o texto a ser tecido em análise advém do que ele não sabe sobre si. O ato de interpretar é condição de abertura do inconsciente, pois desde que se fala se interpreta. É nas entrelinhas do dizer que o analista reenvia o sujeito para além dos significantes na sua relação com o objeto de gozo na fantasia.

As intervenções do analista podem advir de distintos modos: pontuações, enigma, equivoco, escansão, corte, silêncio. Mas só podemos afirmar se foi uma interpretação num só depois, ou seja, a partir dos seus efeitos. No que diz respeito à tática e estratégia no manejo da transferência e nas intervenções, o analista sustenta-se na política da falta-a-ser. Vale lembrar que não há análise sem interpretação, pois interpretar é um “dever” do analista.

Lacan nos ensina que o analista entra na transferência a partir dos significantes do sujeito, não para responder às demandas, mas para fazer ressoar as interrogações do sujeito. Ao intervir no esvaziamento da fixidez do sentido, ele sabe que é pela pergunta que o sujeito se constitui. Assim, a interpretação deve operar não como uma resposta que poderia calar o sujeito, mas no nível da falha de sentido, produzindo enigmas, enviando-o a outros significantes.

A partir da afirmação de Lacan, no Seminário, livro 11, a interpretação não está aberta a todos os sentidos. Não basta que uma intervenção seja exata, mas que ela faça ressoar uma única sequência significante na alusão à causa do desejo e ao gozo que aí se fixou. Em nosso estudo seguiremos priorizando as Ressonâncias da Interpretação a partir dos textos de Lacan na orientação ao real. Concluo com uma citação de Lacan: “A arte do analista deve consistir em suspender as certezas do sujeito, até que se consumam suas ultimas miragens”.

Bibliografias:

Lacan, Jacques. (1953-1954). “A verdade surge da equivocação”. Em: O Seminário, livro 1: os escritos técnicos de Freud. Rio de Janeiro: Editora Zahar.

______________. (1957). “A instância da letra no inconsciente”. Em: Escritos. Rio de Janeiro: Editora Zahar, 1998.

______________. (1964). “Da interpretação à transferência”. Em: O Seminário, livro 11: os quatro conceitos fundamentais da psicanálise. Rio de Janeiro: Editora Zahar.

______________. (1967). “O engano do sujeito suposto saber”. Em: Outros Escritos. Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2023.

______________. (1967-1968). “O ato psicanalítico”. Em: Outros Escritos. Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2023.

Quintas-feiras : das 14:00 às 15:30