Eu escuto.
O que você diz.
O que você quer dizer.
O que você não quer dizer.
Eu permaneço ali, mesmo que você não fale.
Eu escuto o silêncio quando ele pesa.
Quando ele grita sem som.
Quando ele é um quarto vazio com porta aberta.
Você̂ não gosta do silêncio, ele te assusta, ele te remete ao abandono.
Eu escuto o que?
Eu escuto você̂.
Você̂ chega sem nada, mas deixa muito.
Entrega pedaços de si.
Os que doem.
Os que ficaram no escuro.
Fala do medo.
Fala do abandono.
Eu sigo ali.
Eu te escuto.
Eu escuto o que?
Eu escuto você.
O silêncio vem.
Você não gosta do silêncio.
Ele te assusta.
Ele te lembra o abandono.
Que abandono?
Quem te deixou?
Quem não te segurou?
Eu sigo ali.
Eu te escuto.
Eu escuto o que?
Eu escuto o abandono em você.
Ele ainda está aí.
Às vezes se esconde.
Mas nunca vai embora.
Você carrega o abandono.
Ou ele te carrega?
E se um dia for ele quem parte?
E se o abandono te abandonar?
Se ele soltar sua mão?
O abandono pode ir.
Mas ele espera.
Mas é você quem precisa soltar primeiro.
Deixar ir.
Deixar ir o quê?
O abandono que mora em você.
Autora: Ana Carina Jallad
Aluna e Praticante de Gradiva.