O desejo por novas metáforas

12/03/2025

Literatura é o nome que se dá àquilo que se escreve do que se pensa ou se fala. A forma natural de falar e pensar significantes é literária: vivemos, dormimos e comemos por metáforas. Principalmente, amamos por elas.

Ela é a flor impossível do meu jardim, meu pôr do sol em um universo além. Haja luz; e houve luz. O neném, uma semente germinando na mãe. Rita Lee: “minha saúde não é de ferro não, mas meus nervos são de aço”. “O cão sem plumas”, de João Cabral, para nomear um rio pernambucano onde seres humanos retiram a subsistência da lama — uma metáfora que dá gastura. “O amor? Pássaro que põe ovos de ferro”, de O Grande sertão: veredas — uma de quebrar a cabeça.

A metáfora é fundamental para elaborar o difícil viver; e para ressignificá-lo, quando o sentido outrora cristalizado da metáfora já não se suporta mais. A existência precária e penosa é essa metáfora infinita de possibilidades também infinitas. Enquanto dure. Até que o desejo por novas metáforas se instaure.

Assim escreve Fink ao elaborar sobre o assujeitamento do indivíduo ao desejo do outro, que tantos sintomas trazem ao paciente – e por conseguinte, tanto sofrimento: “a análise pode ser vista, na teoria de Lacan, como a exigência de forjar novas metáforas. Pois, cada nova metáfora traz consigo uma precipitação da subjetividade que pode alterar a posição do sujeito. Dado que o sintoma em si é uma metáfora, a criação de uma nova metáfora no decorrer da análise causa não a dissolução de todos os sintomas, mas a reconfiguração do sintoma, a criação de um novo sintoma, ou uma posição subjetiva modificada com relação ao sintoma”.

A existência é literária. E deve ser “lida” no processo de análise. Tem gente que gosta de ler mais. E não há como desver, desler, desmetaforizar — Freud já apontava.

Texto escrito por Aloisio Andrade Oliveira (praticante e aluno em Gradiva)